O projeto Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de condenados pela  Justiça, foi aprovado hoje por unanimidade na Comissão de Constituição,  Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal. Demóstenes Torres (DEM-GO),  relator da proposta, fez um discurso duradouro em favor da aprovação do  texto encaminhado pela Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o Ficha Limpa muda a forma de se fazer política no país.  “É um projeto tão rigoroso que, provavelmente, ao final do ano, muitos  de nós não estaremos mais aqui. Isso porque qualquer atitude eleitoral  indevida levará a inelegibilidade por um prazo muito grande, o que  tirará o político da vida pública”, completou. O projeto segue agora  para o plenário do Senado e deve ser votado ainda hoje.
Segundo ele, nos termos em que se encontra, passando a vigorar nas  eleições deste ano, “no mínimo 25% dos candidatos não poderão mais se  eleger”, o que irá modificar radicalmente os costumes políticos. 
O projeto de lei de iniciativa popular altera a Lei Complementar 64,  que estabelece casos de inelegibilidade. O texto do Ficha Limpa proíbe  por oito anos a candidatura de políticos condenados na Justiça em  decisão colegiada, ou seja, tomada por vários juízes ou desembargadores,  mesmo que o trâmite do processo não tenha sido concluído no Judiciário.
Confira como foi o final da votação
O projeto é duro e atinge não apenas políticos. Pessoas físicas e  jurídicas que fizerem doações eleitorais consideradas ilegais ficam  inelegíveis por oito anos. Delegados de polícia demitidos por crimes  como o de corrupção, por exemplo - ou qualquer outro servidor público -  também ficam sem poder concorrer, a não ser que a decisão seja anulada  pelo Poder Judiciário. Pessoas excluídas do exercício da profissão por  classes representativas como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o  Conselho Federal de Medicina também ficam inabilitados pelo mesmo  período.
Os magistrados e membros do Ministério Público que tenham sido  aposentados compulsoriamente também não poderão concorrer por oito anos.  Se for configurado abuso dos meios de comunicação pelo favorecimento em  campanhas eleitorais, aquele candidato também ficará inelegível.
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) admitiu não apresentar as nove  emendas que deseja propor ao projeto. Em acordo com o relator da  matéria, Jucá apresentará as emendas em forma de um projeto paralelo  para que seja aprovado, posteriormente, no Senado e encaminhado a  Câmara. A ideia é corrigir distorções na versão atual do projeto Ficha  Limpa. “Não quero parecer que estou atrasando o projeto. Quero que a  emendas sejam um projeto paralelo e votá-lo ainda neste semestre para,  então, remetermos à Câmara para consertar o projeto”, explicou.
O Ministério Público e a Justiça Eleitoral terão de dar prioridade  aos processos de abuso de poder econômico. "Juiz nem promotor poderão  alegar acúmulo de serviço", explicou Demóstenes Torres. Os órgãos da  Receita (três esferas), os tribunais de contas e o Banco Central terão  de auxiliar na apuração dos delitos eleitoras, com prioridade sobre seus  assuntos regulares. "Todos terão de trabalhar com prioridade para a  Justiça Eleitoral", afirma.
O Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério  Público e corregedorias eleitoras manterão acompanhamento de relatórios  mensais fornecidos pela Justiça Eleitoral para verificar eventuais  revisões de prazos. "Quem deixar de cumprir o prazo sem justificativa  poderá ser aposentado compulsoriamente, além de outras penalidades",  afirmou Demóstenes.
O Ficha Limpa não se aplica a crimes de menor potencial ofensivo como  os de trânsito ou delitos contra a honra. Também continuará liberada a  renúncia para desincompatibilização visando à candidatura.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) destacou a importância desse momento  para o avanço da política e da recuperação da credibilidade das  instituições públicas. Lembrou, no entanto, que a expectativa gerada  entre a população diante da aprovação do projeto não deve ser frustrada,  como no caso do deputado Paulo Maluf, que poderá se candidatar neste  ano mesmo se o Ficha Limpa for aprovado. "Estamos consagrando a vontade  popular. Pergunto: valerá neste ano ou ficará para as próximas eleições?  Deve vigorar para este ano. Vale a pena cortar na própria carne ao  máximo pela ética", disse.
Para alguns juristas, a lei só poderá valer para as eleições de 2012,  mas para Demóstenes Torres, bem como seus pares na Comissão de  Constituição e Justiça, o projeto deve valer já para as eleições deste  ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário